Como conseguimos comunicar num mundo que nos obriga a estar separados?
No momento em que escrevo, o governo de Portugal acaba de anunciar a aplicação de uma cerca sanitária a 3 concelhos, onde vivem mais de 200 000 pessoas. Olho pela janela e vejo pais à porta da creche, à espera dos seus filhos, a uma distância respeitosa uns dos outros. Estamos a comunicar. A comunicar que não nos podemos aproximar, que precisamos de ter cuidado, mas que mesmo assim temos uma família da qual precisamos de cuidar.
Estar separado também é comunicação. O nosso corpo comunica através daquilo que dizemos, mas principalmente através daquilo que não dizemos e (não) fazemos.
Tenho a sorte de viver com uma família maravilhosa, tendo assim contacto de proximidade, afeto, carinho, com regularidade, mas além deste meu núcleo familiar, a ausência de abraços, de beijinhos, tão queridos na minha cultura, desde há mais de 6 meses, faz-me sentir cada vez mais isolado dos outros. Isto também é comunicação; de cada vez que não abraço, que não beijo, que não dou um passou-bem, estou a comunicar que me preocupo com aquela pessoa e que essa pessoa se preocupa comigo.
Mas, na realidade, não estamos assim tão isolados. Com as nossas conferências via Zoom, e conversas de grupo no Whatsapp e Facebook Messenger, os almoços de família em que, apesar de estarmos afastados por alguns metros, continuamos a conviver, a conversar e partilhar uns com os outros aquilo que é ser humano. No fundo, a comunicar.
O que mais me atrai na tradução, e o que me leva a ter um interesse apaixonado pela área, é precisamente isso, o facto de nós, enquanto tradutores, facilitarmos a comunicação entre pessoas e culturas, apesar de separadas por milhares de quilómetros, permitindo que as mesmas se entendam.
Continuámos, sem interregnos, a traduzir os nossos clientes, a permitir que o mundo continue a comunicar, e desta forma a não parar. Tomamos os cuidados necessários, alguns de nós a partir de casa, outros a partir do escritório, conforme as necessidades.
Sabemos que temos pela frente um período de incerteza e de indefinição, que nos faz olhar para o futuro com apreensão, pois não conseguimos discernir o que de lá vem, mas se continuarmos, com cuidado, com distanciamento, a comunicar que continuamos próximos, então vamos conseguir vencer.
E nós estamos aqui para o ajudar.
Diogo Heleno, Director de Operações