Entre Romãs e Granadas: Quando a Inteligência Artificial Falha na Tradução

Na noite de sexta-feira (27 de outubro), um turista do Azerbaijão sentindo-se indisposto, entrou no restaurante Portugália, no Cais do Sodré, em Lisboa, em busca de uma romã para aliviar o seu mal-estar. Não falando português, recorreu a uma aplicação de tradução no seu telemóvel. Na sua língua nativa, escreveu a palavra para romã (граната), que foi erradamente traduzida como ‘granada’. O funcionário do restaurante, alarmado, alertou as autoridades, desencadeando uma resposta rápida da Polícia de Segurança Pública e da Unidade Especial da Polícia.

A situação só foi esclarecida após uma investigação mais aprofundada, que revelou a falha na tradução automática como a causa do mal-entendido.

Este incidente, inicialmente interpretado como uma ameaça séria, teve direito a transmissão em direto na televisão portuguesa.

A narrativa mudou no dia seguinte, quando foi revelado que o erro de tradução foi a verdadeira causa do alvoroço. Este caso não só causou constrangimento e angústia ao turista envolvido, mas também lançou luz sobre as limitações das tecnologias de tradução automática e a importância crucial de uma revisão humana meticulosa.

Com a Inteligência Artificial (IA) a impulsionar a inovação e a eficiência, é vital reconhecer e mitigar os riscos associados. A inteligência artificial, embora promissora, traz consigo potenciais riscos de fiabilidade, imparcialidade, interpretação, segurança de dados, e necessidade de auditorias rigorosas. A falta de e preparação e verificação internas pode levar a resultados inesperados, com danos à reputação e ações legais, ou até mesmo perdas financeiras ou interrupções operacionais.

A tradução automática é um campo onde a Inteligência Artificial se tem mostrado promissora, no entanto, tal como o incidente este fim de semana em Lisboa demonstrou, um simples erro de tradução pode ter consequências preocupantes. É essencial que as organizações e os indivíduos estejam cientes das limitações da Inteligência Artificial, e que existam mecanismos de revisão e verificação humana para garantir a precisão e a fiabilidade do texto traduzido.

Curiosamente, a confusão linguística não ocorre em todos os idiomas, pois as origens do nome da fruta “Romã” divergem. Aa raízes etimológicas da palavra “Romã” derivam provavelmente ou do Latim “Malum Granatum”, que se traduz como “Maçã Granulada”, ou do Árabe “Rummān” (“Romã”). Enquanto em português o termo para a fruta, “Romã”, evoluiu do árabe, em idiomas como o Espanhol, Francês, Inglês, Alemão e Russo, o nome da fruta derivou do termo em latim. “Malum” é a palavra em latim para maçã, e “Granatum” refere-se à característica granulada da fruta.

A palavra para o dispositivo explosivo, “Granada”, tem esta etimologia curiosa; a semelhança de uma granada com a fruta Romã, possivelmente devido ao fato de estar repleta de pequenos grãos de pólvora, semelhantes às sementes da fruta, inspirou o seu nome.

Desta forma em português, temos a adoção do termo árabe “Rummān” para Romã e o termo europeu “Granada” para o explosivo, derivado do latim “Granatum”.

No entanto, em idiomas como Inglês e Francês, a ligação etimológica entre a fruta e o explosivo é mais direta. Em inglês, Romã é traduzida como “Pomegranate”, onde “Pome” deriva do francês “Pomme” (maçã) e “Granate” do latim “Grānātum”. O termo para granada é “Grenade”, que também evoca a origem do nome em latim. Da mesma forma, em francês, a Romã é conhecida como “Grenade”, tal como o dispositivo explosivo.

As semelhanças continuam em alemão, onde a Romã é chamada de “Granatapfel”, ligeiramente diferente de “Granate”, que se refere a um projétil recheado de explosivos.

Este jogo de palavras e a evolução etimológica dos termos destacam as nuances complexas da tradução, demonstrando a necessidade de uma compreensão cultural profunda para evitar mal-entendidos, especialmente quando se confia na tradução automática.

Na M21 Global, sabemos da importância de entregar traduções precisas e corretas e o quão essencial é o trabalho, a experiência e a competência dos tradutores humanos na tradução. Estes eventos relembram-nos da nossa missão de proporcionar serviços de tradução de alta qualidade, garantindo que a comunicação entre diferentes culturas e línguas seja clara, precisa e sem mal-entendidos.

A Inteligência Artificial e as tecnologias de tradução automática continuam a evoluir, mas até que possam igualar a compreensão, a empatia e a nuance cultural que os humanos oferecem, a revisão e a supervisão humanas permanecem indispensáveis.

Este incidente, para nós apenas um episódio caricato, com toques de humor, foi provavelmente um incidente traumatizante para o turista azeri. Um pequeno detalhe toma proporções alarmantes; um lembrete do longo caminho que ainda temos pela frente na busca da tradução automática infalível.

Fontes:

“Tourist accidentally makes bomb threat by mistranslating Portuguese word for ‘pomegranate’” – https://www.independent.co.uk/travel/news-and-advice/tourist-bomb-threat-portugal-grenade-pomegranate-b2438915.html

“Homem usa tradutor para ameaçar lançar granada dentro do restaurante Portugália no Cais do Sodré – https://www.cmjornal.pt/portugal/detalhe/homem-usa-tradutor-para-ameacar-lancar-granada-dentro-do-restaurante-portugalia-no-cais-do-sodre

“Pediu ‘romã’ mas mostrou ‘granada’: Tradutor trai cliente e provoca alerta no Cais de Sodré” – https://www.cmjornal.pt/portugal/detalhe/troca-de-roma-por-granada-da-alerta-no-cais-de-sodre – paywall

“The Result Of Unchecked AI: Balancing The Benefits And The Risks” – https://www.forbes.com/sites/forbestechcouncil/2023/05/26/the-result-of-unchecked-ai-balancing-the-benefits-and-the-risks/